ATA DA QÜINQUAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 01.12.1987.

 


Ao primeiro dia do mês de dezembro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Qüinquagésima Primeira Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do título de Cidadã Emérita a Sra. Julieta Batistioli, concedido através do Projeto de Resolução n° 17/87 (proc.1387/87). Às dezessete horas e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidade presentes. Compuseram a Mesa: Ver.ª Teresinha Irigaray, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos da presente Sessão; Sr. Domingos Tódero, Presidente Regional do PCB; Srª. Cleci Crixel, representante do PDT Regional e das mulheres do PDT; Sr. Marino dos Santos, ex-Vereador desta Casa; Srª. Julieta Batistioli, Homenageada; Ver. Lauro Hagemann, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PCB, PT, PSB e do PL, discorreu sobre a vida política de Julieta Batistioli, que exerceu a vereança em Porto Alegre sob a legenda do Partido Socialista Progressista. Analisou a participação da homenageada, como militante comunista à frente das principais lutas do nosso povo, destacando sua participação no lançamento de Manifesto condenando a nefasta política do Governo Dutra. A Ver.ª Jussara Cony, em nome da Bancada do PC do B, disse ser hoje um dia muito importante para esta Casa e, principalmente, para a luta das mulheres e do povo de Porto Alegre. Destacou que a Presente Sessão, ao homenagear a Sr. Julieta Batistioli, primeira mulher a exercer a Vereança em nossa Cidade, resgata a luta feminina gaúcha em prol de sua emancipação, comentando os desafios enfrentados pela homenageada para fazer valer seus direitos dentro de um regime ditatorial e repressor. O Ver. Caio Lustosa, em nome da Bancada do PMDB, teceu comentário sobre a luta desenvolvida pela homenageada, sobre a repressão e o autoritarismo vigentes no País, falando, também, sobre a figura de Lilla Rippoll que, juntamente com a Srª. Julieta Batistioli trabalhou em prol da democracia e dos direitos humanos. Ao finalizar, declarou a justeza da presente homenagem, em face da importância da Srª. Julieta Batistioli para a busca do ideal de fraternidade para todos. A seguir, a Srª. Presidente registrou a presença, no Plenário, do Sr. Elói Martins, ex-Vereador da Casa e do Sr. Clóvis Ilgenfritz, que representa a Direção Regional do PT e convidou a Ver.ª Jussara Cony a assumir a Presidência dos trabalhos. Em continuidade, a Ver.ª Teresinha Irigaray, em nome da Bancada do PDT, disse da sua satisfação por homenagear a Srª. Julieta Batistioli, pessoa a quem sempre admirou e em quem pautou sua atuação. Comentou a árdua luta de S.Sa. em favor da mulher, principalmente da mulher operária, dentro de uma sociedade discriminadora e de um regime político opressor. Ao finalizar, congratulou-se com o Ver. Lauro Hagemann, pela proposição da presente Sessão. A seguir, a Srª. Presidente registrou a presença, no Plenário, do Sr. Wilson Marcon, representando a Federação dos Bancários; Sr. Paulo Silveira e esposa, do Instituto Cultural Brasil-União Soviética; Sr. Juarez Porto, do Clube de Cultura; Srª. Avani Koeller, do Movimento de Mulheres do PCB; Sr. João Avelino, Diretor do Jornal Voz da Unidade; Sr. Paulo Guarnieri, do Instituto Olga Bernardi Prestes; Sr. Waldemar Marques, da Associação dos Moradores do Candor, Sra. Cecília Lucena e devolveu a direção dos trabalhos à Ver.ª Teresinha Irigaray. Após, a Srª. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pelo Ver. Lauro Hagemann, do Diploma de Cidadã Emérita a Srª. Julieta Batistioli e concedeu a palavra a homenageada, que agradeceu o título recebido. Em prosseguimento, a Srª. Presidente fez pronunciamento relativo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezessete horas e cinqüenta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, e convidando-os para a Sessão Solene a ser realizada às dezenove horas, em homenagem ao centésimo vigésimo aniversário da Sociedade Ginástica Porto-Alegrense, SOGIPA. Os trabalhos foram presididos pelas Vereadoras Teresinha Irigaray e Jussara Cony e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Lauro Hagemann, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.

 

 


A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Convidamos para fazer uso da palavra o Ver. Lauro Hagemann, autor da proposição e que falará em nome das Bancadas do PCB, PT, PSB, PL.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sra. Presidente e Senhores Vereadores, Julieta Batistioli foi a primeira mulher que exerceu a vereança no município de Porto Alegre. Esta Casa, portanto, tem uma dívida para com esta extraordinária mulher, que hoje está sendo resgatada.

Exerceu seu mandado pela legenda do então PSP, Partido Social Progressista, em razão da ilegalidade do PCB. Julieta, como sabemos todos, era uma militante comunista e os anais desta Casa demonstram que ela, apesar das ameaças e das possibilidades de repressão, nunca negou sua condição de militante do PCB.

Consta nos Anais desta Casa:

Julieta Batistioli substituindo o então Vereador Marino Rodrigues dos Santos, preso pela polícia, por sua condição de militante comunista:

Diz Julieta:

“Senhor Presidente e Senhores Vereadores, assumo neste momento mais uma vez o posto de luta que é esta cadeira na Câmara Municipal de minha cidade. Venho ocupar, como proletária que sou, o lugar deixado vago pelo meu camarada Marino dos Santos, afastado de seu cargo pela violência, pela força.

Para cada lutador da causa do proletariado que a reação consegue atingir e golpear, surgem novos lutadores.

Por mais que se desespere a reação, jamais poderá fazer calar a voz do povo e de seu Partido de Vanguarda. A prisão do Vereador Marino Rodrigues dos Santos e o plano de provocações que o governo lançou contra nós, os Comunistas, e contra todos os democratas em geral é uma das mais sinistras invenções da reação desesperada”.

Julieta Batistioli, Sra. Presidente e Senhores Vereadores, é filha da classe operária. E uma das melhores filhas do povo. Nunca negociou sua consciência e muito menos transigiu em seus princípios. Lutou sempre em favor dos oprimidos e dos explorados e sempre esteve à frente das principais lutas de nosso povo.

Quando Luiz Carlos Prestes, em nome do PCB, lançou à Nação um Manifesto condenando a nefasta política do governo Dutra, Julieta Batistioli teve a incumbência de ler o manifesto em Plenário, no Plenário desta Casa. E quando realizava sua leitura, Senhora Presidente e Senhores Vereadores, produziu-se o seguinte diálogo com outro Vereador:

Que partido representa V. Ex.ª neste Plenário?

Vereadora Julieta: “Fui inscrita pelo PSP”

Vereador: Fala em nome de que Partido?

Julieta: Quando me inscrevi, eles sabiam, perfeitamente, que eu era comunista.

Vereador: Obrigado. Era para constar nos Anais desta Casa.

Vereador Marino dos Santos (entrando na discussão): “Aliás, a Polícia também gosta de fazer estas perguntas”.

E foi bom, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, que existisse tal provocação para que a geração atual tivesse conhecimento da dignidade e da fortaleza desta mulher chamada Julieta Batistioli. Este registro ficará para sempre na nossa história e servirá de exemplo, como tem servido, às novas gerações de brasileiros, principalmente de mulheres que, a cada dia, ingressam na luta política em defesa dos mais legítimos direitos de libertação da classe operária e do povo brasileiro.

Como todo comunista e lutador social, Julieta Batistioli teve seu batismo nas cadeias da repressão. Afinal, sabemos todos, que no nosso País, em grande parte de sua história, postar-se ao lado dos interesses dos oprimidos, significava cadeia, repressão, vida difícil. Julieta sabia disso. Mas tinha certeza de que somente a luta social poderia mudar o mundo e libertar das amarras do capital, dos grilhões da opressão, as grandes massas de trabalhadores e trabalhadoras.

Incansável lutadora, foi presa por defender os direitos do povo. Mas não se intimidou e muito menos esmoreceu sua vontade de luta. Pelo contrário, temperou sua fibra e lançou-se à luta com mais vigor, participando ativamente de todos os atos em favor da Paz.

Julieta Batistioli não foi apenas a primeira mulher que exerceu a vereança em Porto Alegre. Julieta marcou sua presença aqui como uma mulher que abriu espaços em seu tempo para tantas outras mulheres, tantas outras Julietas, que hoje, prosseguem seu trabalho e sua luta.

Esta Casa, hoje, presta homenagem a esta figura do proletariado.

Esta Casa, hoje, resgata uma dívida para com esta mulher exemplar.

Esta Casa, hoje, está de parabéns. Grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, a Ver.ª Jussara Cony, do PC do B.

 

A SRA. JUSSARA CONY: Vereadora, companheira, Teresinha Irigaray, Vice-Presidente em Exercício desta Casa, no exercício da Presidência; nossa homenageada, sempre Vereadora Julieta Batistioli; Sr. Domingos Tódero, Presidente Regional do PCB; Companheira Cleci Crixel, pelo PDT Regional, companheira de tantas lutas; Companheiro Marino dos Santos, ex-Vereador desta Casa; Sras., Srs., lideranças comunitárias, sindicais e de partidos políticos que aqui se encontram: este é um dia importante para esta Casa.

Mas é um dia importante para nós, mulheres, mulheres vereadoras. Mas, principalmente, é um dia importante para a luta das mulheres e para a luta do povo, porque estamos - a Câmara Municipal de Porto Alegre, através deste título proposto pelo Vereador Lauro Hagemann - resgatando a história de Porto Alegre, desta Casa, das mulheres, através desta justa homenagem à primeira mulher a ocupar um espaço neste Parlamento. Mas não um espaço qualquer, mas um espaço, senhores e senhoras, que foi exercido através de um mandato comprometido com a luta das mulheres, com a luta dos trabalhadores e com a luta do povo.

 Companheiros, companheiras, nossa homenageada, na luta que nós, mulheres, travamos por nossa emancipação, na luta que nós mulheres, travamos lado a lado, com os homens, pela libertação do nosso povo, na luta que travamos para acabar, sim, com a base material que nos oprime, e todo o povo, que é a estrutura social do capitalismo e que se manifesta nas mais variadas formas para nós, mulheres, seja através da violência que é todo o dia exercida sobre nós, na sua forma mais brutal, ou nas formas mais sutis e requintadas, como por exemplo, a necessidade de as operárias, as trabalhadoras, da apresentação do “plano teste” para serem admitidas em um emprego; seja como dona de casa, explorada, já que o nosso trabalho doméstico evita que os empregadores tenham que incluir no salário, os preços das lavanderias, dos restaurantes, das creches a que temos direito, trabalho, aliás, não reconhecido por ninguém.

Seja como trabalhadora, discriminada, recebendo os piores empregos e os menores salários, sem infra-estrutura para trabalhar, sem estabilidade, sem proteção à maternidade e à gravidez, sem creches, e ao voltarmos para Casa, cumprindo a tão conhecida “dupla jornada de trabalho”.

Seja enquanto trabalhadoras rurais, sem profissão reconhecida, seja enquanto mulheres negras, mais uma forma de discriminação.

Nesta luta, companheiros e companheiras, e mais na compreensão de que nessa opressão, discriminação, não são um fim em si, mas forma pela qual a classe dominante aprofunda a exploração em um número maior de seres humanos, nesta luta, repito, e nesta compreensão está a luta e a presença de Julieta Batistioli, que foi a primeira mulher a ocupar a tribuna, onde hoje estamos em número de cinco, e seremos mais, porque a mulher avança, e a sociedade avança na compreensão de que homens e mulheres juntos, e através da participação de mais de 50% da população deste País, é que nós derrubaremos a estrutura, a base material que nos oprime, explora todo o povo.

Mulher que foi uma operária têxtil, que enfrentou o jugo dos patrões, em defesa dos direitos de sua classe, a classe operária; mulher que ao assumir em 12 de fevereiro de 48, na tribuna da Câmara Municipal, usou o seu espaço primeiro conquistado através da luta e de voto popular para protestar contra a política anti-popular do Governo do Marechal Dutra.

Mulher que organizou mulheres e homens para a luta contra a opressão e discriminação; mulher que lutou pela paz.

É uma honra homenageá-la, não apenas porque foi a primeira mulher a ocupar a Tribuna desta Casa, mas é uma honra homenageá-la pela luta que travou e que continua travando e que oportunizou a luta de mais homens e mulheres.

A luta, companheiros e companheiras, companheira Julieta, é enorme. Vivemos um momento de profunda crise estrutural neste País. Ontem na homenagem que esta Casa prestava ao povo palestino ao Dia de Solidariedade a este bravo povo, seu representante, o representante da OLP aqui comovia a todos nós dizendo da luta da mulher palestina e é esta luta da qual Julieta Batistioli é uma das tantas mulheres.

 É esta luta, em Porto Alegre, no Brasil, em todos os povos. Através dela que nós, homens e mulheres, num momento como este aprofundamos nossa compreensão de que há muita luta, mas esta é fundamentalmente de todos; da unidade dos homens e das mulheres, da unidade das forças democráticas e progressistas deste País que nós avançaremos para derrubar a estrutura material que oprime a homens e mulheres de que avançaremos na construção do socialismo.

Esta é a homenagem em nosso nome e em nome do Partido Comunista do Brasil, que trazemos neste momento a esta brava mulher de tantas e tantas lutas. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Ver. Caio Lustosa, que falará pela Bancada do PMDB.

 

O SR. CAIO LUSTOSA: Sra. Ver.ª Presidente Teresinha Irigaray; Sr. Domingos Tódero, Presidente Regional do PCB, Sra. Cleci Crixel, representante do PDT Regional; Sr. Arq.º Clóvis Ilgenfritz, Presidente Regional do Partido dos Trabalhadores, Vereador, sempre Ver. Marino dos Santos, Companheira Julieta Batistioli.

Como já referiram os oradores que nos antecederam, esta não é apenas uma homenagem à primeira mulher que ocupou a vereança nesta cidade, é antes do mais uma homenagem à líder operária dos anos 50, à combatente pela democracia nos embates contra o autoritarismo do governo Dutra, é a homenagem à militante pacifista daquele tempo, é à precursora aqui da luta feminista, quando ajudou a criar a Federação Gaúcha das Mulheres. Organizou o primeiro Congresso de Mães e mais tarde o grande Congresso de Mulheres Trabalhadoras do Rio de Janeiro. É a homenagem à figura humanitária que ponteou a angariação de assinaturas contra a extradição ilegal, desumana e cruel de Olga Prestes.

Se na concepção de Marx o homem é um conjunto de relações sociais, Julieta Batistioli simboliza toda uma combativa geração de lutadores que sempre se posicionaram nestas décadas que precedem os dias de hoje na luta permanente em defesa dos valores democráticos e no combate ao arbítrio e às ditaduras.

Lembro-me bem, ainda menino, quando em Caxias ainda encontrava uma figura muito semelhante à Julieta Batistioli. Era uma farmacêutica, ela e mais dois ou três lutadores conscientes, o radiologista Faccioli que justamente no alvorecer do regime autoritário de 37 enfrentavam com denodo, com garra a opressão dominante, o sistema facista clerical que dominava a então pequena Caxias. E esta figura de mulher, até hoje, me inspira na análise da problemática da luta social, da luta pela superação desta sociedade de desigualdades e de injustiças, e eu vejo muito identidade entre aquela figura que nos anos de 30 e poucos, com Julieta Batistioli. Aqui, bem mais tarde, tivemos oportunidade de conviver, proximamente, com outra batalhadora da guerra, que se chama Leila Ribal, que está presente na vida e na memória desta cidade, e que a par de sua poesia lírica, produziu uma literatura engajada, uma literatura de combate por momentos em que abatiam sobre os companheiros todas as forças da repressão e do autoritarismo. Versos como este: “a massa resiste rebelde, indomável, erguendo muralhas e peitos e braços às frias espadas aos altos fuzis”.

 Lila nos deixou poemas deste jaez, e que, indiscutivelmente, perenizaram e perenizam todo aquele tempo de lutas de que participou Julieta Batistioli, ao lado de companheiros que aqui nesta Câmara firmaram os princípios da igualdade social, da superação das injustiças, do rompimento com as opressões que nos dominam, tais quais o nobre e sempre Vereador, Marino dos Santos.

Então, é sumamente gratificante para a Bancada do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, a esta hora trazer a sua saudação, esta homenagem tão bem proposta pelo companheiro Ver. Lauro Hagemann.

Nós temos certeza de que Julieta Batistioli, analisando todo esse seu trabalho, toda essa trilha de lutas e de sacrifícios, chegará bem à conclusão de que valeu a pena, abriu espaços para a luta permanente, não só das mulheres, mas como dos trabalhadores, dos homens como um todo, da sociedade majoritária, dos que vivem do suor e do sacrifício, para a busca daquele ideal que foi tão bem já assinalado por Paulo Eloir, quando apontava o caminho da luta pela busca de um novo tempo, e dizia assim: “ Pão e rosas para todos, nós prestamos juramento, o caminho não é tão longo assim, e nós caminhamos a passos de gigante”.

Tenha a certeza, companheira Julieta Batistioli, de que valeu a pena a sua luta como um lume aceso para as novas gerações, na prossecução, na continuada desse caminho, na busca de paz, amor e felicidade para todos os homens. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Presidência registra, com prazer, a presença do Sr. Elói Martins, ex-Vereador da Casa. (Palmas.) Registra, também, a presença do Dr. Clóvis Ilgenfritz, que representa a Direção Regional do PT. (Palmas.)

Convidamos a companheira Jussara Cony para assumir os trabalhos, para que esta Vereadora possa saudar a Julieta Batistioli.

 

A SRA. PRESIDENTE (Jussara Cony): Desculpem a informalidade, pela 1ª vez eu assumo a Presidência dos trabalhos nesta Casa, o que é uma honra em um momento como este.

Com a palavra, a Ver.ª Teresinha Irigaray, pela Bancada do PDT.

 

A SRA. TERESINHA IRIGARAY: Sra. Presidente em exercício Ver.ª Jussara Cony do PC do B; minha Homenageada, nossa querida Julieta Batistioli que todos nós amamos e respeitamos. Meu antigo e querido Prof. de Latim do velho e antigo Instituto de Educação, ex-Vereador desta Casa, Dr. Marino dos Santos; Sr. Elói Martins, Sr. Tódero; minha amiga e militante do meu Partido Cleci Crixel que representa a Ação da Mulher Trabalhista neste exato momento; Dr. Clóvis Ilgenfritz, do PT; Srs. Vereadores; Srs. da Imprensa; Srs. da Assistência. Srs. funcionários.

Nada mais feliz para mim, nada mais gratificante para este já um pouco cansado coração e que neste 1º de dezembro luminoso, radiante, quente, de um aniversário que eu não vou dizer de quanto, mas já pela metade da vida, eu esteja tendo a felicidade e honra de saudar uma pessoa que eu sempre admirei, que eu sempre me pautei, e que sempre achei o posicionamento como mulher e como política exemplares, únicos e imperativos. Esse dia de aniversário, para mim, é um dia de felicidades porque eu reúno as duas coisas: eu saúdo a minha amiga Julieta Batistioli que em feliz inspiração o Ver. Lauro Hagemann trouxe para Cidadã Emérita de Porto Alegre e revejo, também, neste reencontro que o tempo proporciona dentro das nossas emoções, eu revejo as figuras de que eu gosto, que eu conheço e que eu não via há tantos anos como é o caso do Dr. Marino dos Santos. É uma hora em que eu não trouxe nada escrito porque, para mim, não cabe falar nada escrito na mão.

Eu quero falar para Julieta Batistioli com o coração, com o coração escrito na mão, com o coração aberto, com a emoção jorrando, sabendo que ela foi a 1ª Vereadora a subir nesta Tribuna e a falar e a se desvincular dos preconceitos de uma sociedade preconceituosa que, na época, ela, como simples artesã, como simples tecelã, enfrentou toda uma sociedade que achava que, realmente, a mulher não tinha condições de seguir pelo caminho político.

E nós sabemos, Julieta Batistioli, o que a sociedade impunha naquela época às mulheres que participavam das reuniões políticas. Eu soube também, por experiência própria, quando freqüentava o PTB, onde as mulheres, junto com os homens, não conseguiam fazer esse caminho que é o de realizar e o da tornar uma sociedade mais amiga, fraterna e construtiva.

Talvez tivesse pago um pouco pesado pela minha participação, quando, elegendo-me Deputada Estadual, junto com o Ver. Lauro Hagemann, fomos cassados por uma chamada “revolução” que, até hoje, não nos disse qual o crime que cometemos. O meu crime deve ter sido igual ao seu, era o de nós querermos que essa sociedade caminhasse mais altiva, mais fraterna e mais humana e social. Por isso, Julieta, os problemas que tiveste na época, como mulher política, nós também enfrentamos há 18 anos, sobrecarregados por uma sociedade elitista que nos pisa até hoje, por sociedade que marginaliza a mulher, por sociedade que é discricionária, que não vê o trabalho da mulher como deve ser feito.

É uma hora em que sabemos que tem uma longa luta ainda pela frente. Sabemos também que é uma hora em que vamos deixar de pensar em tudo que terá de vir, dentro dessa grave ameaça que ainda pesa sobre todos nós de não-realizações de coisas que desejamos para que a democracia se consolide neste País, para dizermos que é um momento feliz. É um momento em que nos unimos, é um momento de alma e de coração, é um momento em que nós lembramos passagens como foi a do Ver. Caio Lustosa em lembrar Lila Rippoll - e saiba, Vereador, que meu primeiro discurso na Assembléia Legislativa foi para homenagear Lila Rippoll.

São coisas que emocionam, são coisas que nos unem, que nos juntam, além dessa homenagem a essa mulher que foi guerreira, sim, que foi impávida, sim, que foi audaz, sim, na sua época e dentro do seu comportamento político.

Uma mulher que trouxe para esta Casa a palavra de uma operária, uma coisa que não existia na época.

Ao longo dos anos, Julieta, queremos que as mulheres participem mais, queremos que as operárias, os sindicatos tragam mais seus representantes para a Casa do Povo. É um dia de aniversário, Ver. Lauro Hagemann, que posso dizer, é um dia feliz, aquecido na temperatura e aquecido no coração também. Quero deixar o abraço à amiga, à companheira de lutas e de sacrifícios de lutas políticas e de aspirações democráticas, o abraço da Bancada do PDT, ela está junto contigo.

E nós mulheres desta Casa, em número de quatro, também te saudamos todas nós. E fico muito feliz em ver a Mesa representada por mulheres, lutadoras, dentro dos seus partidos, como é a minha brava companheira Clecy Crixel, que luta dentro da MT do PDT, como é a brava companheira Jussara Cony que luta pelo PC do B, e como tu, Julieta, que sempre lutaste dentro do teu Partido e sempre foste honesta em teu posicionamento ao dizer, mesmo quando ele estava na clandestinidades, que tu eras e sempre foste, comunista.

(Palmas.)

Parabéns, Ver. Lauro Hagemann, pela iniciativa e aqui não existem partidos, existem mulheres saudando mulheres e homens saudando, de coração aberto àquela que foi uma representante feminina de alto valor político e que, seguramente, ainda é, seguindo junto conosco para que tenhamos uma sociedade mais humanitária e mais social, e para que as mulheres possam participar mais ativamente desse árduo e espinhoso, mas brilhante caminho político.

Saudação, minha companheira Julieta Batistiolli, que Deus te ilumine, que Deus de proteja, que Deus te dê uma longa e longa vida e que possamos privar, ainda, contigo anos e anos, para a felicidade de todos os representantes desta Casa e de todos os teus amigos que aqui estão apenas para te homenagear. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Estão presentes neste Plenário o Sr. Wilson Marcon, representando a Federação dos Bancários; Paulo Silveira e esposa do Instituto Cultural Brasil-União Soviética; Juarez Porto, do Clube de Cultura; Avani Keller, do Movimento de Mulheres, do PCB; João Aveline, diretor do Jornal Voz da Unidade; Paulo Guarnieri, do Instituto Olga Benário Prestes; Waldemar Marques, da Associação dos Moradores do Candor; Companheira Cecilia Lucena, de tantas lutas.

Passamos neste momento a Presidência dos trabalhos à Ver.ª Teresinha Irigaray.

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Irigaray): Agora nós vamos ouvir a palavra da nossa homenageada. Mas, antes, chamamos o proponente da Sessão, Ver. Lauro Hagemann, para que passe às suas mãos o Diploma de Cidadã Emérita de Porto Alegre.

Peço ao Plenário que, de pé, façamos a nossa homenagem a nossa querida Julieta Batistioli.

 

(O Ver. Lauro Hagemann faz a entrega do título.)

 

A SRA. JULIETA BATISTIOLI: Exma. Sra. Presidente dos trabalhos da Câmara de Vereadores; Exmo. Domingos Tódero, Presidente Regional do PCB; Exmo., Ver. Lauro Hagemann; meus amigos Cleci Crixel e Mariano dos Santos.

Minhas Senhoras e meus Senhores, que, no meu tempo, estavam, lutavam junto comigo e que juntos saíamos às ruas a coletar assinaturas contra a ida dos nossos filhos à Coréia, a esse e à Angelina Gonçalves, ferida pela Polícia em Rio Grande e que acabou numa cadeira de rodas. A todos esses essa homenagem.

Meus amigos, disseram tantas coisas que eu não sei se mereço, ou se mereço muito mais pelas lutas que eu tive, mas todas essas companheiras que hoje lutam e que, agora têm um caminho mais aberto, fizeram grandes movimentos pela mulher camponesa no Gigantinho, a minha saudação. É um dia muito feliz.

A greve das professoras que marcou época na história do Rio Grande do Sul, a minha solidariedade.

Assim, meus companheiros, a nossa luta é a mesma, a luta dos companheiros de hoje, moços, jovens com força e que lutam pela emancipação do trabalhador, pela emancipação da mulher e que lutam pelo direito digno de vida, por menos fome, por menos morte nessas vilas. Por tudo isso que ainda temos que atravessar e lutar por um mundo melhor onde todos poderão viver condignamente.

 

Sem mais delongas, os Senhores me desculpem porque eu estou muito emocionada, peço desculpas, uma boa tarde. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. PRESIDENTE: A Casa do Povo de Porto Alegre agradece a Presença do Sr. Domingos Tódoro, Presidente Regional do PCB, da Cleci Crixel, representante da AMT e do PDT Regional; dos ex-Vereadores Marino dos Santos e Elói Martins; Dr. Clóvis Ilgenfritz, do PT; a todos os ilustres convidados; Srs. Vereadores; ao Ver. Caio Lustosa; Ver.ª Jussara Cony; ao proponente Ver. Lauro Hagemann.

Lamenta, apenas, que esta Casa não esteja lotada por todos os seus representantes do povo... (Palmas.)... para, na singeleza desta homenagem que prestamos, conhecerem de verdade o que é, o que foi e o que representa esta nossa companheira dentro da história do seu Partido e de todos os partidos políticos da Casa, da Cidade e do País e eu, pessoalmente, dentro da minha emoção, desejo que Julieta Batistioli seja sempre, carinhosamente e respeitosamente vista por todos os partidos, como uma grande figura e líder feminina, como foi e como o é, dentro da sua origem humilde de tecelã, ter chegado ao lugar de primeira Vereadora do Legislativo Municipal de Porto Alegre.

Receba, Julieta, neste final de tarde, as homenagens da Casa do Povo. Certamente, Porto Alegre cresceu muito hoje. Certamente, a cidade que dá tantos e tantos Títulos de Cidadão Emérito, hoje, notadamente, hoje, ela escolheu uma pessoa de grande porte e de grande valor. Parabéns, Ver. Lauro Hagemann, pela escolha. A Casa do Povo sente-se orgulhosa de conceder esse diploma àquela que realmente representou na sua época e representa, talvez, até hoje o anseio de milhares e milhares de trabalhadores massacrados por um Governo prepotente, não cumpridor de suas promessas ao povo e pelo qual ela sempre lutou e se dedicou.

Nada mais havendo a tratar, levanto a presente Sessão e convido os Srs. Vereadores para a Sessão Solene a ser realizada a seguir.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h50min.)

 

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